Chegamos em Viana a noite, após o dia agitado em Araçatiba. Fomos recebidos por Tia Maria, a responsável pelo Casarão transformado em Casa de Cultura de Viana. Seria nossa casa pelos próximos dias.
Na primeira manhã na cidade, Dila, a simpática trabalhadora do casarão nos levou para uma volta pelas redondezas. Chegamos ao rio Santo Agostinho, o “grande vilão” das enchentes que aterrorizam a cidade no verão. Os sinais ficam marcados nas fachadas das casas. É impressionante ver o nível que atinge a água. Seguimos caminhando pelas margens desse rio até encontrar Tânia, uma moradora da região.
Tânia nos contou sobre como se prepara sempre essa época do ano para não perder suas coisas na enchente, como colchões e roupas, e disse que todo ano é a mesma coisa: já estão “acostumados” a ter que replanejar suas vidas, tentando ter o mínimo de prejuízo possível. Muitas casas próximas a dela foram abandonadas por essa questão. Essas casas estão construídas numa área rebaixada, então, a água do São Agostinho sobe muito rápido. As casas tem um depósito-sótão onde é possível guardar algumas coisas da família, mas mesmo assim, perdem fogões e geladeiras.
Na manhã seguinte, nos encontramos com seu Dalton, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu. Ele nos contou sobre seu trabalho junto ao comitê e sobre os problemas que o rio e a mata enfrentam hoje em dia. Um senhor muito inteligente e com muita disposição para passar e trocar seus conhecimentos. Saímos rumo à algumas propriedades rurais da região, inclusive na dele, onde planta mandioca e cana de açúcar para o comércio. Na parte da tarde nos acompanhou rumo ao INCAPER, uma fazenda experimental administrada por Afonso, um técnico agrícola muito simpático. Lá eles trabalham com o plantio agroflorestal consorciado entre cacau, cana e banana, além de uma horta de plantas medicinais gigante.
Na quinta-feira fomos convidados a participar de uma oficina sobre essas mesmas plantas medicinais. Fizeram chá de algodão, Xarope de Capuchinha, Gel anestésico e nos serviram um lanche da manhã incrível, com muitos quitutes da região e sucos naturais. A Marcela teve o prazer de finalmente provar o famoso pão pomerano.
Seu Dalton nos propôs que partíssemos em busca do encontro dos dois braços do Rio Jucu e uma nova expedição começou. Passamos por muitas propriedades por entre os vales da região, em momentos avistando o rio do alto, e em outros andando ao lado dele. Enquanto viajávamos por ali, seu Dalton seguia nos falando sobre o problema do desmatamento nos morros, razão pela qual a água da chuva ganha mais velocidade e poder destrutivo.
Em um momento deixamos o carro para trás e seguimos caminhando pelos trilhos do trem. Uma ferrovia muito linda, podíamos ver o rio abaixo. Chegamos num ponto onde podíamos avistar a usina Jucu, uma pequena hidrelétrica que abastece a região. Seguindo pelo trilho do trem, após um lindo bambuzal, chegamos a um túnel. Escuridão total! Atravessamos e chegamos a uma ponte sobre o rio Jucu, um visual incrível. Imagens idílicas.
Voltamos para o carro e continuamos nossa busca pelo encontro dos braços norte e sul do Rio Jucu. Em cada propriedade que parávamos, descobríamos um pedacinho novo, já não dava pra saber se era braço norte ou braço sul, da quantidade de voltas que dávamos naquelas serras, uma confusão cartográfica generalizada! Por fim chegamos à propriedade de uma família que nos instruiu corretamente ( estávamos toda a tarde escutando que o encontro das águas era aqui, alí, detrás daquele morro- e essas infos nos levaram a todos os lugares possíveis e imagináveis, menos ao que realmente estávamos buscando). Pudemos avistar o encontro das águas de certa distância- o encontro de fato acontecia detrás de uma ilhota. Sem fonte de acesso. Mistério sempre há de pintar por aí.