Armario Coletivo


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27/11/2012 [TEXTO e FOTOS] Viana em Casarão Cultural, Incaper, Seu Dalton por Joao Luis de Oliveira

Chegamos em Viana a noite, após o dia agitado em Araçatiba. Fomos recebidos por Tia Maria, a responsável pelo Casarão transformado em Casa de Cultura de Viana. Seria nossa casa pelos próximos dias.

Na primeira manhã na cidade, Dila, a simpática trabalhadora do casarão nos levou para uma volta pelas redondezas. Chegamos ao rio Santo Agostinho, o “grande vilão” das enchentes que aterrorizam a cidade no verão. Os sinais ficam marcados nas fachadas das casas. É impressionante ver o nível que atinge a água. Seguimos caminhando pelas margens desse rio até encontrar Tânia, uma moradora da região.

Tânia nos contou sobre como se prepara sempre essa época do ano para não perder suas coisas na enchente, como colchões e roupas, e disse que todo ano é a mesma coisa: já estão “acostumados” a ter que replanejar suas vidas, tentando ter o mínimo de prejuízo possível. Muitas casas próximas a dela foram abandonadas por essa questão. Essas casas estão construídas numa área rebaixada, então, a água do São Agostinho sobe muito rápido. As casas tem um depósito-sótão onde é possível guardar algumas coisas da família, mas mesmo assim, perdem fogões e geladeiras.

Na manhã seguinte, nos encontramos com seu Dalton, o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Jucu. Ele nos contou sobre seu trabalho junto ao comitê e sobre os problemas que o rio e a mata enfrentam hoje em dia. Um senhor muito inteligente e com muita disposição para passar e trocar seus conhecimentos. Saímos rumo à algumas propriedades rurais da região, inclusive na dele, onde planta mandioca e cana de açúcar para o comércio. Na parte da tarde nos acompanhou rumo ao INCAPER, uma fazenda experimental administrada por Afonso, um técnico agrícola muito simpático. Lá eles trabalham com o plantio agroflorestal consorciado entre cacau, cana e banana, além de uma horta de plantas medicinais gigante.

Na quinta-feira fomos convidados a participar de uma oficina sobre essas mesmas plantas medicinais. Fizeram chá de algodão, Xarope de Capuchinha, Gel anestésico e nos serviram um lanche da manhã incrível, com muitos quitutes da região e sucos naturais. A Marcela teve o prazer de finalmente provar o famoso pão pomerano.
Seu Dalton nos propôs que partíssemos em busca do encontro dos dois braços do Rio Jucu e uma nova expedição começou. Passamos por muitas propriedades por entre os vales da região, em momentos avistando o rio do alto, e em outros andando ao lado dele. Enquanto viajávamos por ali, seu Dalton seguia nos falando sobre o problema do desmatamento nos morros, razão pela qual a água da chuva ganha mais velocidade e poder destrutivo.

Em um momento deixamos o carro para trás e seguimos caminhando pelos trilhos do trem. Uma ferrovia muito linda, podíamos ver o rio abaixo. Chegamos num ponto onde podíamos avistar a usina Jucu, uma pequena hidrelétrica que abastece a região. Seguindo pelo trilho do trem, após um lindo bambuzal, chegamos a um túnel. Escuridão total! Atravessamos e chegamos a uma ponte sobre o rio Jucu, um visual incrível. Imagens idílicas.

Voltamos para o carro e continuamos nossa busca pelo encontro dos braços norte e sul do Rio Jucu. Em cada propriedade que parávamos, descobríamos um pedacinho novo, já não dava pra saber se era braço norte ou braço sul, da quantidade de voltas que dávamos naquelas serras, uma confusão cartográfica generalizada! Por fim chegamos à propriedade de uma família que nos instruiu corretamente ( estávamos toda a tarde escutando que o encontro das águas era aqui, alí, detrás daquele morro- e essas infos nos levaram a todos os lugares possíveis e imagináveis, menos ao que realmente estávamos buscando). Pudemos avistar o encontro das águas de certa distância- o encontro de fato acontecia detrás de uma ilhota. Sem fonte de acesso. Mistério sempre há de pintar por aí.


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27/11/2012 [TEXTO, FOTO, DESENHO] por Fabiola Melca, Marcela Arantes e muitas outras crianças

A Marcela vem fazendo um trabalho inspirador durante a viagem, ela se encontra com crianças e propõe que desenhem juntos, sobre o Rio Jucu, a água, a vida, sonhos… com essas meninas e meninos vem construindo uma cartografia que conecta imagens geradas desde a cidade onde o Rio nasce, Domingos Martins, ate onde ele se encontra com o mar em Vila Velha.

Num dia desses tomei fotos do processo pra ela e aqui trazemos um pouco do universo em linhas e cores destes personagens que ainda tem tanto para dar e receber deste mundo.A Marce tambem desenha e registra seus novos amigos com suas aquarelas.

O Rio Jucu, as aquarelas da Marce e as crianças que se aproximam do projeto triangulam possibilidades infinitas de ver e rever este rio, de ver e rever-se como água. Precisamos levar em conta que  quando crianças somos ainda mais aquosos, úmidos e férteis. Segundo os textos taoístas a água é símbolo de sabedoria, pois corre livre seguindo as irregularidades do terreno, sem contestar, sem parar, achando seu caminho por entre pedras e obstáculos. Assim como as crianças. Nadar em um grande mar ou lago é retornar ao todo indivisível. A água segundo o taoísmo é o caos e a indistinção primeira, o útero materno e a vida aquática do feto são momentos de fusão em diferenciação. Sem o útero o feto não existe. (CAMPIGLIA, 2004)

Ainda se falamos em seqüência cosmológica a água é o início, o alicerce dos outros elementos. As emoções estão fortemente associadas ao elemento água, que é um meio fluido pelo qual se comunica o sutil e as vibrações emocionais.

 Desde o útero somos pura água, no final dos primeiros seis meses de gravidez, o total de água no organismo de uma criança corresponde a 94 %. Às 32 semanas de gravidez, 80 %. Com um ano de idade, o total de água numa criança corresponde “apenas” a 60 % do peso corporal.
Uma vez nascidos, os bebés começam a perder mais água, sendo fundamental repô-la, para um bom crescimento e desenvolvimento. A água se faz necessária para o crescimento das crianças e para o melhor funcionamento do organismo, melhorando as funções dos rins, bexiga e intestino.
As frutas, sucos, legumes e verduras também são fontes de água para o corpo humano. Mas as crianças devem beber pelo menos quatro copos com água fervida ou filtrada para garantir a harmonia do seu corpo.

O elemento água faz parte do sangue e outros líquidos corporais, como o esperma, que é outra fonte de vida. Deste modo, a água não só fertiliza os campos, mas ainda da vida ao homem por meio dos líquidos seminais e do sangue. Ela representa o fluxo contínuo de vida e de vitalidade.

As crianças tem uma relação tão bacana com os elementos naturais que a gente sempre costuma dizer que, se plantar quando criança seguramente vai crescer melhor, mais forte e mais consciente de sua condição elemento, animal e poeta neste mundo. Acho que este trabalho dialoga com isso.


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26/11/2012 [FOTOS e TEXTO] Making Off Video Animado de Valentina, imagens por Fabiola Melca, texto por Valentina Sandoval e mais fotos por Joao Oliveira

A história de um pequeno pescador que navega pelo Rio Jucu em busca de sustento foi o tema do primeiro trabalho de animação que fizemos.

Peças em miniatura conformaram o casting desta produção, gravada durante todo um caloroso dia de praia na Barra do Jucu. O processo de criação do historie bord foi árduo, uma chuva de idéias que mesclavam o tema principal – o rio Jucu, os elementos que seriam animados, a estética, locações, hora, data e todos nós formando a equipe de trabalho. As meninas foram vitais para recriar e plasmar fisicamente minhas idéias de um peixe feito com um flor que encontrei em meu caminho em uma rua perdida do bairro; e um pássaro que teria que voar de algum jeito. Tudo parecia perfeito, Maria Alejandra já vinha seguindo o rastro branco e preto do bem te vi e Marce descobriu sua veia artesã. Na madrugada, uma semente de um tipo de coquinho da Restinga completou minha idéia da embarcação que navegaria pelo Rio Jucu feito de folhas verdes, rosas e marrons, recolhidas na rua que moramos.

Decidir realizar a gravação na praia foi uma ousadia, uma vez que a brisa do mar nos fez trabalhar demais para manter as folhas seguras ou correr muitas vezes atrás das que já haviam sido carregadas pelo vento. Além do pescador – um homenzinho feito de papel – do “floripez” e do passarinho negro, participou da gravação o famoso e não muito amado Bagre Africano que eu havia feito com uma garrafa pet e outros elementos plásticos recolhidos em lixeiras caseiras.

  A história faz parte de um imaginário, mas acho que não está muito longe da realidade dos pescadores que diariamente buscam seu sustento, enfrentando um rio cheio de seres flotantes, estranhos e alheios; um rio que pode ser amável e em outros momentos triste, que pode ser verde e também cheio de poluição e lixo.

Esta animação foi realizada foto a foto baixo a lente de Fabiola Melca, imaginada e animada por mim e o multi-assistente-de-tudo Joao Oliveira. No final do dia tínhamos mais de seis gigas de material pronto para edição e um bronzeado genial.


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25/11/2012[FOTO e TEXTO] Araçatiba, por João Luiz de Oliveira

No domingo, 25 de novembro, chegou a vez de conhecermos Araçatiba, uma comunidade formada por descendentes de quilombolas. Pertence ao município de Viana, e está a 30 km da sede desta cidade. A história “oficial” da comunidade começa com a chegada dos jesuítas, que catequizaram e escravizaram os índios tupiniquins naturais do local. Os indígenas trabalharam no cultivo da cana de açúcar, na construção da igreja Nossa Senhora D’Ajuda e na abertura do canal de Jacarandá, que utilizavam para escoar a produção da fazenda rumo à Vitória e ao mar.

Após a expulsão dos jesuítas, Sebastião Ferreira Machado assume o controle da fazenda e traz 800 negros para continuar o trabalho realizado pelos indígenas. Começaram a cultivar milho, arroz e mandioca, além da cana de açúcar. Aparentemente, este senhor era mais bondoso (?) a ponto de não existir tronco na fazenda de Araçatiba, questão essa debatida por Jane, filha de dona Nini, a matriarca da Fazenda.

Saímos da Barra do Jucu às 6 da manhã para começar a jornada que nos levaria até a missa afro de Araçatiba. Passamos pelo terminal de Itaparica, depois o de Vila Velha, logo o de Campo Grande, e desde aí, o ônibus 902, rumo à fazenda. Logo que saímos do território urbano, fomos contemplados por cadeias de montanhas muito verdes e pastagens infinitas. De mochilas nas costas e chuva na cabeça chegamos à quadra poliesportiva da Escola Municipal enquanto os responsáveis pelo evento ainda arrumavam os últimos detalhes do cenário para a celebração de suas crenças.

A missa foi conduzida por uma sacerdotisa e durante toda a missa houve intervenções musicais quase que teatrais pelo capricho nos figurinos usados tanto pelas crianças quanto pelos adultos. A missa teve direito à uma banda com percussão de congo e backing vocals. Na hora do almoço tivemos uma boa surpresa. A degustação de um prato indígena chamado Sotêco, feito de banana, tomate, cebola, alho, tempero verde e limão. Uma iguaria super exótica para acompanhar a moqueca de peixe. Muy rica. Haviam muitas pessoas fazendo o registro do evento por meio de fotos e vídeos, foi algo impressionante ver tantas câmeras em ação!

Na parte da tarde, três bandas de congo se apresentaram ao mesmo tempo, uma loucura! Foi uma experiência incrível de contratempo. A chuva nos manteve a todos curtindo aquele som frenético na quadra da escola, mas finalmente São Pedro deu uma trégua e fomos todos subir a ladeira rumo a igreja de Nossa Senhora D’Ajuda num cortejo alucinante. Após o congo, houve a apresentação de uma banda de samba muito boa para fechar este evento tão familiar!


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15/11/12 [TEXTO] Rio Arsilla – Domingos Martins, por Valentina Sandoval

La sierra de montanhas a lo lejos es azul
vamos por una envolviente carretera verde
paralela al rio anaranjado,
marcante rio ocre,
rio arcilla.

La familia de Chapeixes viajo con cámara y pincel
a la rivera que está más próxima a una naciente de luz.
Luz que es el agua,
agua que es la fuente
fuente para un puente
uma ponte.
Uma vera que vem de las venas de la naciente.
Y siente!
y se protege
se resguarda
se hace en silencio,
entre el mato.
Y si yo la mato?
qué crédito puedo tener?
Não acredito!
Volver a la memoria de este viaje es ir al Rio Jucú, el ser vivo de las multiples personalidades, el rio cambiante de ritmo y cuerpo.
El uso de casco Chapeixe es primordial para este mergulho, para proteger la poesia y ver el rio con la cabeza puesta en el agua, o al pez puesto en el corazón o al rio como una razón y con razón! Si el rio es esa pulsión que va hasta el corazón y nos bombea con la bendición y la oportunidad y el derecho de beber um golinho en la manhana o en la banhera. Agua que nos alimenta, que nos mantiene vivos, esa agua que debe ser salud.
Hasta para brindar con cachaça, necesitamos agua, así que los borrachitos y todos los seres sin excepción en el mundo debemos sentirnos agua y protegerla y respetarla y amarla, porque es tan vulnerable que cualquier gota de codicia, de ambición, de agrotóxico, de sangre derramada por la guerra, de inconciencia la contaminará.


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15/11/12 [TEXTO] Casa do Macaco Velho. Lotação 5 macacos. – Domingos Martins por João Luiz de Oliveira

Domingos Martins, população aproximada: 30 mil habitantes. Cidade de serra. Riqueza d’água. No percurso, Mata Atlântica quase que fechada num vale quase infinito, cheio de curvas. Eucalipto, palmeiras de distintas espécies, cafezais, e outras inúmeras plantações, como de hortaliças, inhame, banana-da-terra. Mais curvas. Chegamos a Pedra Azul. Enorme monumento naturalmente belo; frondoso em suas formas e cores. Algumas manchas de cor marrom, outras verdes, e dizem que por alguns dias, dependendo da luz solar, se pode ver a tonalidade que lhe dá o nome: azul. A população local está tentando outorgar a essa beleza o título de Patrimônio Natural da Humanidade, através da Unesco. O que tem de único essa maravilhosa anciã é uma parte de seu corpo, como uma unha, cabelo ou até tatuagem, no formato de um lagarto. Tomando banhos de sol, lua e muita chuva constantes.
Montanhas vertiginosas, vistas incríveis, absurdas pedras que assistiram a toda a vida no planeta. Um lugar com uma energia incrível, a cidade é abraçada por esses vales verdes de terreno muito fértil.  Ao lado do capitão da vez, Henrique, o simpático motorista da Secretaria de Turismo e Cultura, passamos o dia inteiro de um lado para o outro, buscando os lugares por onde passa o rio Jucu ou algum de seus afluentes. Buscávamos uma das nascentes , e as indicações nos levaram por uma jornada incrível de muitas plantas e cores, mas infelizmente nenhuma nascente, apenas alagados, mosquitos e mata muito fechada, o que nos desmotivou a meter-se sem um guia! Porém o passeio foi produtivo: desenhos, impressões, ideias, imagens em movimento foram compartilhadas. Para um bom viajante, creio que basta e abastece.
Com o final do dia, o querido motorista-guia-AMIGO Henrique nos convidou a dormir na casa de sua família, a poucos minutos do centro da cidade de influencia majoritariamente alemã. Aceitamos. Chegando lá, nos contou um pouco mais sobre sua vida: como suplementava a renda familiar com um trabalho artesanal e um carrinho de cachorro quente e salgadinhos fritos, sobre a filha modelo do primeiro casamento, os problemas com o filho adolescente do segundo e atual casamento, com Neusa, uma mulher muito bondosa que nos recebeu de braços e sorriso abertos. Os filhos, Rhainer e Nicolas, tímidos, porém muito interessados em participar de nossa chegada à sua casa.
Pela manhã, partimos em busca de novas partes do rio, lugares mais acessíveis. Chegamos à outra pedra enorme. Uma que separava o encontro de um córrego com o rio Jucu –   o encontro das águas se dava embaixo dessa pedra. Logo que chegamos, uma mulher, Isaura, me perguntou o que é que olhávamos ali. Expliquei-lhe sobre o projeto Mergulho Poético e perguntei se não teria fotos antigas, ou histórias do rio para nos contar. Recomendou-nos que falássemos com sua sogra. Dona Ana.
Um momento idílico. Digno de inúmeras fotos e sensações. Dona Ana, descendente de italianos, é uma jardineira elétrica. Além de depositar (creio eu) que metade de seu amor e atenção ao seu jardim infinitamente diverso, Dona Ana também costura, faz tricô e ajuda os vizinhos com mudas ou sementes de suas plantas ou auxilio na hora de suturar algo, pingar colírio, ou acredito que simplesmente escutar o que as pessoas lhe tem a dizer. É uma boa ouvinte, e boa falante também. Nos contou que sua maior angústia com relação ao rio Jucu é a maneira como muitos agricultores da região não se preocupam muito com a maneira como se desfazem das embalagens plásticas de agrotóxicos, que muitas vezes, pela correnteza, vão parar na frente de sua casa, embaixo dessa linda pedra.
Dona Ana é ciente do perigo que isso apresenta para o presente e futuro de sua vida nesse lugar, muito diferente de seu passado. Passado quando, para ela, não existia tanto consumismo, desperdício, e que as pessoas aprendiam mais coisas, prestavam mais atenção às coisas, de maneira integral, e não perdidas num fluxo efêmero de necessidades criadas. Após essa e outras declarações, lhe convidamos a que nos apresentasse suas plantinhas e seu hermoso jardim.
Além de muitas espécies de bromélias e orquídeas, dona Ana também tem um grande acervo de suculentas, jabuticabeiras, ervas medicinais, inhame, palmeiras e um berçário de mudas enorme. Nos encantou essa senhorinha de coração tão jovem, e marcamos com ela um encontro para o nosso retorno à cidade. Me deu de presente um item invejável: uma linda suculenta cujas folhas são contornadas por uma fina linha bordô. Linda demais!
Após o almoço com direito até a sobremesa, graças a um apoio que recebemos de um restaurante,  partimos para os dois últimos destinos do dia: a usina elétrica da região e  a Cachoeira do Galo. Ambos os lugares impressionantes na abundancia das águas. A usina, claro, causou um pouco de desconforto aos olhos de um amante da natureza, mas pudemos notar que aparentemente o impacto não era tão grande. A cachoeira, uma beleza, alta e com um fluxo de água muito forte. Me parece um lugar interessantíssimo para uma puesta en escena, coisa que espero fazer ao regressar a essa cidadezinha tão charmosa e tranquila.


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7/11/12 [TEXTO] Reserva de Jacarenema – Barra do Jucu – Vila Velha por João Luiz de Oliveira

CORTOS VIAJES: 1ª Expedição Mergulho Poético pelo Rio Jucu.

Oito de novembro de 2012, Vila Velha, Espírito Santo.

Depois de dois dias de muita chuva, os tripulantes dessa embarcação acordaram na Barra do Jucu com uma apresentação por parte de Petrus, um companheiro do Instituto Jacarenema de Pesquisas e Proteção Ambiental. Esse companheiro, que viveu na Barra do Jucu durante 20 anos, nos contou com nostalgia dos dias em que podia surfar no rio. O Instituto trabalha desde o ano de 2004 e nesse tempo, encontrou na lontra, mamífero da região, um termômetro ambiental e figura carismática para ajudá-los a conquistar mais adeptos da preservação deste rio tão importante para região.

Após um breve estudo sobre os dados que nos passou Petrus, recebemos uma chamada do grande Hudson, um trabalhador da cidade dono de um barquinho muito aconchegante. Confirmado um encontro pós-almoço no Brega’s, restaurante na beira do Rio Jucu. Barrigas cheias e pés na estrada. Ou melhor, no braço de rio. 5 tripulantes e o capitão. Partimos. A primeira parte do rio, logo ao lado do Morro da Concha, se encontra bastante assoreada. Podíamos escutar os remos fazendo pressão contra a areia do fundo. Por isso, muitas pessoas realizam a travessia dessa parte do rio a pé, para chegar ao mar, ou pescar.

Pelo caminho, nos deparamos com diversas espécies de fauna e flora. Cabelo d’água e gigóia são duas plantas em abundância no rio pela existência dos dejetos oriundos do esgoto. A sujeira as alimenta. Com a ajuda do assoreamento, essas plantas formam ilhotas por toda extensão do baixo Jucu. Entre esse cenário verde e estranho, convivem também garças, frangos d’agua, piaçocas, urubus-rei, e presenciamos uma engraçada perseguição de dois bem-te-vis a um gavião, que com certeza estava tentando alimentar-se das crias desses lindos cantores. E infelizmente, muito lixo ao longo do percurso: garrafas pet, sacolas plásticas, sapatos… O triste foi ver que também havia muito lixo em alguns pontos específicos das margens, onde ficam pescadores. Engraçado não é? Os que talvez mais precisam do rio ajudam a contaminá-lo diretamente.

Um ponto muito marcante foi passar abaixo da Rodovia do Sol, que corta a Reserva de Jacaranema em duas. Concreto no meio do mato. Barulho desconexo. Carros, motos, pedestres, ciclistas e nossa embarcação meio ao rio e todos esses pássaros e mato “morto”. Chocante também foi ver o Canal do Araçás, que lança “a céu aberto”(embaixo da ponte) muitos resíduos sólidos e outras substâncias tóxicas no Jucu. Passada a ponte nos encontramos a um pescador de camarões, para criá-los em cativeiro e depois vendê-los R$25,00 o quilo.

Ao fim do percurso, fizemos uma parada estratégica na casa da mãe de Hudson, nosso capitão. Depois de uma grande desidratação (esquecemos a única garrafa d’água no restaurante Brega’s baixo um sol escaldante) Hudson nos convidou a tomar muita água de coco no quintal de sua mãe, Dona Ione, proprietária de um jardim incrível onde nasce graviola, cana, maracujá, maracujá-do-mato, coco, acerola, manga, orquídeas, bromélias, e muitos caranguejos escondidos no mangue aterrado.


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7/11/12 [TEXTO] Reserva de Jacarenema – Barra do Jucu – Vila Velha por Marcela Arantes

Água é sempre a mesma?

Rio tem a memória de ser rio, de ventar, do silêncio de suas águas movediças?
Que diz um rio sujo?
É ter plástico, garrafa de pulmão, recobrindo nossos músculos e ar?
Como vive um corpo sem dança?
Sem poder entregar-se a água, que de suja dá afliçao que toque nossa pele.
Nos metamorfoseamos em garça ou capivara?
Dragar a sujeira e se alastrar como um cabelo d‘água, gigóia.
Em suas margens ainda voa Urubu Rei e Piaçoca.
O rio canta pra quem se encanta, e estremece com o bagre boquiaberto que flutua sua morte.